23 janeiro 2008

O Amor Vulgar

"Pinta-se o Amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos, como o de Jacob, nunca chega à idade de uso de razão. Usar de razão, e amar, são duas coisas que não se juntam. A alma de um menino, que vem a ser? Uma vontade com afectos, e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febricitante, que não tivesse o entendimento frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar, se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que não houvesse fraqueza no juízo. Por isso os mesmos Pintores do Amor lhe vendaram os olhos. E como o primeiro efeito, ou a última disposição do amor, é cegar o entendimento, daqui vem, que isto que vulgarmente se chama amor, tem mais partes de ignorância: e quantas partes tem de ignorância, tantas lhe faltam de amor. Quem ama, porque conhece, é amante; quem ama, porque ignora, é néscio. Assim como a ignorância na ofensa diminui o delito, assim no amor diminui o merecimento. Quem, ignorando, ofendeu, em rigor não é delinquente; quem, ignorando, amou, em rigor não é amante."

Padre António Vieira, in "Sermões"

3 comentários:

Gustavo Santos disse...

Olá prinçusa...
É com muito gosto que recebo as suas opiniões.
Em primeiro lugar, gostava de lhe agradecer a explicação sobre o termo "patologia"...de facto, e atendendo ao significado cru da palavra, não se adequa à minha intenção. Depois, dizer-lhe que "sofrivel" apenas quer dizer "que faz sofrer" e por ultimo referir que, de facto, houve um momento na revisão feita pela editora, que me mostraram parte da letra do André Sardet no meu texto. Não sei se escreve, mas posso adiantar-lhe que por vezes, entre o processo criativo, surgem frases feitas ou ditas por outras pessoas que inconscientemente acabamos por escrever sem saber bem de onde as fomos buscar...foi o que sucedeu e, na altura, alterámos essa situação!
Penso que está esclarecida...agradeço-lhe mais uma vez e até uma próxima.
Paz,

Gustavo Santos

Gustavo Santos disse...

Bom dia.
Fico lisonjeado com a sua admiração, mas também lhe digo que não é caso para tanto...sou um homem comum que ama a palavra e que um dia sonha ser um grande escritor. O crescimento dá-se mais rápido na humildade de saber ler e ouvir opiniões de terceiros, mesmo que não coincidam com as nossas.
Permita-me, também, dizer-lhe que o sentido critico só é realmente valorizado se anteriormente a ele, houver, também, a sensibilidade para reconhecer as virtudes de tantas outras ideias escritas. Este meu romance, mais do que qualquer erro gramatical ou de vocabulário, é um livro que apela à consciência de quem o lê e essa é sem sombra de duvida a sua missão e o propósito pelo qual o escrevi...
Um abraço.
Paz,

Gustavo

The Fool disse...

Sem querer tirar mérito a uma seleccionadora de escrita alheia, já se via por aqui um pouco mais da obra pessoal. E por muito que gostemos de charadas e surpresas, deixas-nos um pouco perplexos, pois não fazemos a mais pequena ideia de quem sejas. E não foi por falta de indagação. Nevertheless, muito obrigado pelo apoio, esperando então identificação posterior. Um beijo lusitanto, com um aroma de LA.